Conhecendo um autor - Jénerson Alves

Jénerson Alves tem 36 anos, é natural de Palmares, mas foi em Caruaru que fincou suas raízes. Jornalista e professor, é poeta e apaixonado pela Literatura de Cordel. Entrevista: 1 - Jénerson, quando você se descobriu um poeta? Sempre gostei de ler e escrever. Inclusive, chamam-me de autodidata na leitura – leio desde os 4 anos de idade, antes mesmo de cursar a série de Alfabetização. Quando criança, brincava de produzir livretos de histórias, utilizando uma antiga máquina de escrever que meu pai possuía. Assim, a poesia veio chegando junto, sobretudo por meio dos programas de TV e rádio apresentados por cantadores repentistas da nossa região. 2 - Por que o cordel? Chego a pensar que o Cordel me escolheu. Embora eu goste de diversas manifestações literárias, há aspectos inerentes à Literatura de Cordel que sempre me cativam, como a diversidade vocabular, o ritmo isométrico, as vertentes narrativas, entre outros. Ler (e produzir) Cordel é imergir em um oceano de múltiplas possibilidades. 3 - De que forma o cordel impacta na sua vida? Na minha vida, o Cordel ajuda na busca de enxergar a Beleza que se manifesta nos detalhes do cotidiano. Aquela Beleza que os gregos já enalteciam, por estar de mãos dadas com a Bondade e a Verdade. O Cordel tem os pés fincados no chão, no telúrico, mas aponta para o céu, o etéreo, unindo temporalidade e eternidade. O Cordel impacta-me a vida por fazer-me pensar além da vida. 4 – Enquanto professor, como você utiliza o cordel em sala de aula? Sim. O Cordel serve para aprofundar conhecimentos linguísticos, aumentar a sensibilidade para com a língua (ritmo, figuras de linguagem, expressividade vocabular). Com isso, estimula o conhecimento junto ao encantamento. Quantas dinâmicas proveitosas podem ser feitas com o Cordel! À guisa de exemplo, nesta semana que concedo esta entrevista, realizamos um piquenique literário com estudantes de 5º ano. Tenho certeza de que, para muitos, após atividades assim, a literatura será “degustada” de uma forma diferente, mais prazerosa. Enfim, o Cordel pode “temperar” as aulas, o que remete à raiz do “saber”, que é o “sabor”. 5- Como você acha que pode despertar o interesse das novas gerações pela literatura de cordel? Acredito que utilizando todas as possibilidades disponíveis. Por exemplo, apresento semanalmente um quadro chamado Rimas em Cordel, no programa Café, Forró e Política, da Rádio Cidade. Com isso, busco aproximar o Cordel de um público que talvez não o conheça. Vejo muitos adolescentes e jovens interagindo em iniciativas assim. Entendo, ainda, que é importante utilizar as redes sociais para difusão dos fazedores cultura; bem como elaborar produções que dialoguem com o universo hodierno – com temáticas como internet, bullying, meio ambiente etc. Ademais, cabe às entidades de classe, como associações e academias, elaborarem diretrizes que erijam o Cordel, situando-o em um local de proeminência, que é dele de fato. 6 – De forma geral, como incentivar as novas gerações, tão ligadas à tecnologia, a lerem? Há um velho adágio que diz: “A palavra convence; o exemplo arrasta”. Quantos estudantes sequer veem os professores lendo? Quantos pais têm o hábito de ler perto das crianças? Enfim... acredito que há espaço para a leitura, mesmo neste mundo de telas. Associar prazer à leitura é um bom caminho, e deve começar da base.

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